30.12.07

Post(umo) de Natal

Eu tinha 6 anos recém completos e aquele seria meu primeiro Natal após "descobrir" que Papai Noel não existia (faltou pouco para minha mãe bater na vizinha que me fez a tal revelação).

Meus pais, mais aventureiros que o Indiana Jones, resolveram nos levar (eu e minha irmã, que tinha 3 anos) para escolhermos nossos presentes em alguma loja de brinquedos localizada no centro da cidade, mais precisamente na General Carneiro, ali nas imediações da Rua 25 de março (!!!).

Eu, a pessoa-mais-decidida-do-mundo-desde-pequenininha, sabia exatamente o que queria: uma boneca grande, da minha altura! (como era de praxe, minha irmã se contentaria em ter uma igual).

Então, deu-se início à peregrinação. Lembro-me de passarmos por várias lojas e em nenhuma delas havia uma boneca "do meu tamanho". Por fim, ao chegarmos num superlojão de brinquedos ao final da ladeira, bastaram alguns minutos de conversa com a vendedora para que ela me apresentasse a Simone, uma boneca loira, com olhos azuis, vestindo blusa xadrez, saia jeans e sapatos brancos. Ah, e que tinha a minha altura!

"Ufa, perfeita!", minha mãe deve ter pensado, já exausta daquele programa de índio. "Você tem outra igual a essa?", ela perguntou à vendedora, que prontamente saiu em busca da outra boneca.

Mas eu continuava lá, encarando a Simone e fazendo cara de poucos amigos.

- O que foi? - minha mãe me perguntou, abaixando-se diante de mim. - Não era uma boneca assim que você queria? Grande, da sua altura?
- Mãe, eu não quero essa boneca! Ela tem dentes!!!

Sim, ela tinha um sorriso idiota típico de bonecas, mas ao invés daquela mancha branca comum à maioria, ela possuia a demarcação dos dentes, mais precisamente os dois da frente, superiores, o que lhe rendia um ar ainda mais idiota.

Lembro-me da minha mãe respirando fundo e meu pai fazendo cara de que não era com ele. A partir daí, a história se resume à vendedora buscando caixas e mais caixas de bonecas e eu achando defeito em todas: "Essa não é loira!", "Essa não é grande!", "A roupa dessa é feia". Até que, finalmente, a vendedora encontrou uma que poderia me agradar.

"Graças a Deus!", deve ter pensado minha mãe, voltando-se à vendedora: "Você tem duas dessa?". Não. Não tinha. E vocês podem não acreditar, mas eu ainda consigo me lembrar da expressão corporal da vendedora, no melhor estilo "estou entregando os meus pontos".

A essas alturas, meu pai já estava lá na porta, impaciente. E minha mãe ali, de joelhos, diante da minha irmã, olhando-a nos olhos (e nessa época nem existia Super Nanny!), tentando desesperadamente, quase em súplica, convencê-la das possíveis vantagens de ter uma boneca diferente da minha e, portanto, de ficar com aquela coisa horrorosa cheia de dentes.

Não me lembro quanto tempo levou essa "conversa" delas, só sei que minha mãe a convenceu. E então todos sorriam: a vendedora exausta, a minha mãe realizada, a minha irmã enganada e o meu pai, já sacando o talão de cheques diante do caixa.

Mas eu continuava lá, parada no mesmo lugar, diante de todas aquelas bonecas que pareciam estar me olhando. Minha mãe se aproximou. Desta vez, era ela quem tinha a cara de poucos amigos:

- O que foi agora?!?!?
- Mãe, eu quero aquela boneca que tem dentes!!!



Um comentário:

Helena disse...

hahaha eu conheço esta história, mas não podia deixar de ler novamente rs...

beijos