Ontem saí do trabalho com uma puta angústia, com a cabeça explodindo e uma insuportável (e quase incontrolável) vontade de chorar. Sabia que chegando em casa o faria, e teria que ficar respondendo com uma porção de "Não foi naaaada..." a quem viesse me atormentar com perguntas.
Cogitei descer do ônibus e ir ao cinema. Lá é escuro e as lágrimas poderiam rolar tranqüilamente. "Mas e os soluços?", pensei. Sim, eu necessitava explodir num choro daqueles barulhentos, regados a fungadas nojentas e tudo o mais. "Assisto a um drama!", eurecava minha mente, para em seguida me lembrar de que já assisti a todos os dramas convicentes em cartaz na cidade.
"Aaaaaaaaaaaaaaah, caralhooooooooooooooo!!!!"
E foi então que pensei no (CREIO EU!!!!) impensável: o CHORÓDROMO!!!!
Pensem comigo: há inúmeros lugares pra gente rir, se divertir, estravasar. Bares, cinema, teatro, parques... Vc até pode estar na fossa e ir com a intenção de curtí-la, por assim dizer, mas o que quer, na verdade, é se distrair, fingir que a dor não existe. Minha proposta, no entanto, seria a do aceitamento desta, ou seja, a cutucada na ferida pra tirar o abcesso que está láááááá dentro.
O serviço seria prestado por meio do aluguel de cabines (como as privê), por períodos previamente determinados. Em cada uma das cabines haveria, como cortesia, água e lenços de papel. Com o tempo, como todo e qualquer novo serviço, a demanda seria maior que a oferta, e as pessoas ficariam numa sala de espera, aguardando a sua vez para chorar. O que não seria bom para o dono do negócio, claro, pois pessoas deprimidas, juntas, tendem a dividir seus lamentos e, talvez, se sentissem recuperadas antes mesmo de utilizarem-se do serviço. Os proprietários, então, teriam que desenvolver um diferencial. Quem sabe com espaços maiores e mais confortáveis, talvez acomodando camas (existe melhor maneira de chorar do que com um travesseiro contra o rosto?). Poderiam ainda criar espaços temáticos (não dizem que dinheiro não traz felicidade mas ajuda a chorar em Paris?), ou ainda personalizá-los, sob medida, aos clientes mais exigentes...
Anyway, o fato é que ontem eu adoraria poder contar com um lugar assim. Eu chegaria à bilheteria e ninguém ficaria me olhando com cara de "Nossa! O que será que aconteceu?" ou "Deve ser por causa de homem!". Estando lá pela primeira vez, o(a) atendente me informaria:
- Temos períodos de 15, 30 ou 60 minutos, senhora.
- E como eu sei quanto tempo vou ficar? - diria eu, já com lábios e queixo trêmulos.
- Não precisa se preocupar! A senhora paga na saída. Mas lembramos que, optando pelo pacote especial...
- Pacote especial?!?! - eu o interromperia.
- Sim, optando pelo pacote especial de 2 horas, a senhora vai pra cabine master com isolamento acústico, e ainda leva uma dúzia de copos ou pratos pra quebrar, à sua escolha!
- Perfeito! - eu esqueceria que havia ido lá pra chorar e esboçaria um sorriso sarcástico.
Agradecimentos:
à Neurótica, pela sua vontade de chorar e pelos palavrões;
à Baladeira, por também expôr seus sentimentos e redigir o texto;
à Espiral, por transformar o texto em crônica;
à Faz-de-conta, por deixar a imaginação fluir.
(quanto a mim, apenas criei o produto/serviço potencial!)
2 comentários:
Um serviço assim tiraria metade da utilidade do banheiro, pelo menos pra mim. Infelizmente, homens tendem a chorar escondidos, pois se o fizerem abertamente, ou são "bixas" (e aqui fica uma grande interrogação sobre o real significado do conceito ligado à essa palavra), ou "estão com frescura / depressão" e por aí vai. Fico imaginando quantas guerras seriam evitadas se alguns "grandes homens" tivessem a coragem de admitir: "Tudo bem, nós temos nossas diferenças, mas vamos resolver tudo com um bom choro no ombro do outro." Quem sabe um dia...
"Cheguei" ao seu blog através do texto para o CCSP, na parte do criado-mudo, confesso que li a maioria dos seus textos e este eu simplesmente AMEI!! Se existisse um 'choródromo' eu ia ser frequentadora VIP hehehehe mas enfim, acessei o seu blog há algum tempo e hj tive q indicá-lo (rsrsrs) pois uma colega de trab chegou implorando por um lugar em que ela pudesse quebrar alguma coisa, chorar, gritar sem ter q explicar nada à ninguém, foi quando na hora, pensei no seu choródromo!! Hj, somos 02 novas leitoras!
Abs
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