6.2.06

Terapia barata

Cheguei em casa às 6hs. Às 10hs já me forçavam a abrir os olhos. Ou melhor, os ouvidos. Um exemplo? Armários que parecem ter vida e gritam por socorro, tamanhas as vezes em que batem suas portas em alto e péssimo tom. Argh!

Agüentei o que pude e, então, saltei da cama para o chuveiro.

ARREPENDIMENTO 1 - cruzei com minha mãe e ignorei seu oi. Que culpa ela tem?
ARREPENDIMENTO 2 - a irmã caçula de castigo, mas eu bem queria sua companhia tão incompreensiva quanto a minha. Por que não intervi?
ARREPENDIMENTO 3 - um tchau insonoro pro meu pai. Sem beijo. Sem olho no olho, apenas um murmúrio.

Sem destino, perdida na rua, na vida e dentro de mim mesma, fui à lan house ver a programação cultural gratuita. Ou ao menos acessível ao meu bolso que, ultimamente, esvazia-se antecipadamente na mente.

Uma hora navegando sem bússola e saio em direção ao ponto-de-ônibus. Bizarro! Sem saber pra onde ir, como me decidir por um itinerário?

Enfim, chego ao Metrô Carrão. Penso em ir até a Barra Funda e voltar. E ir de novo, e voltar, num passeio intermitente na minhoca paulistana. Mas sigo meu destino: salto na Sé e dirijo-me à linha azul. Penso em descer na Estação Paraíso e caminhar até a Consolação. Salto na Brigadeiro. O sol arde e "me lembro de que me esqueci" do protetor solar. Nizan, não sigo sua lição mas passo-a adiante!

Uma mensagem via celular e entro na Galeria de Arte do Sesi. "ODORICO TAVARES - A minha casa baiana". Um belo acervo, sem dúvida, mas não gostei das instalações, digo, da disposição das obras. Primeiro porque me causou uma impressão de dispersão, isto é, não há uma linha a ser seguida. E eu, particularmente, odeio me sentir feito barata tonta, sem saber o que vi e o que ainda falta, passando três vezes pelo mesmo corredor. A luz, por sua vez, também não estava adequada. Algumas telas estavam na penumbra, sendo que não me fora disponibilizada uma lanterna na entrada da exposição. Outras, ao contrário, estavam muito iluminadas e, vocês sabem, "óleo" e luz não combinam. Tive que dançar diante de algumas telas até que encontrasse um ângulo que afugentasse os reflexos. (Parêntese para relatar o momento em que me vi sozinha na "sala" onde se encontram imagens sacras dispostas há uns 2,5m do chão. Antes que anjos virassem suas cabeças em minha direção e que o Cristo me dissesse algo em tom de condenação, retirei-me. Quase corri!).

Agora, meu destino é a feirinha do Parque Trianon. Durante o pudim de morango, "Ihhh... a garota tem olhos tristes!". Era uma piada? Dizia-me respeito? Ou seria apenas umbigocentrismo atacado pelo tamanho da carapuça? Anyway...

O caminho de volta foi pelo lado da sombra. Destino: Centro Cultural São Paulo. "Ooooops, espere aí! Vou ficar duas horas lá fazendo o quê?" Pit stop numa papelaria para a compra de um singelo notebook.

E então, aqui estou: sentada num banco duro, com as costas suadas apoiadas num vidro (o que possivelmente comprometerá minha coluna). À minha esquerda, um show de rock cuja banda desconheço. À minha direita, um revezamento de personagens. Primeiro, a menina de visual esquisito. Depois, o casal faminto, que parou a tiazinha da limpeza para perguntar-lhe sobre onde poderiam comer (e eu, confesso, desconhecia a existência de um restaurante aqui dentro!). Por último (e neste exato momento), um senhor com rabo de cavalo e barba branca, que faz a leitura dinâmica de uma revista (sei que é dinâmica pela velocidade com que sobe e desce a caneta que ele utiliza para acompanhar as linhas, mas confesso: por um instante, pensei que ele resolvia uma cruzadinha...rs).

São 19h40, minhas costas doem e a música de outrora tornara-se barulho, simplesmente. Daqui a 20 minutos estarei sentada numa cadeira não menos desconfortável, em meio a dezenas de desconhecidos que têm ao menos um objetivo comum: assistir ao filme "O VESTIDO", baseado em texto de Carlos Drummond de Andrade.

Porei fim à minha terapia barata, conquistada pela bagatela de R$ 2,50: um Tilibra espiral 96 folhas. Sim, estou falando do caderno.

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