30.12.08

Fechando o tal do ciclo vicioso

Numa de nossas últimas conversas ele definiu meu sentimento como ‘doença’, uma vez que esse havia ‘destruído’ a nossa relação e ele sentia que estava me ‘perdendo’. Isso martelou na minha cabeça por algum tempo, até eu chegar à conclusão de que amar não é doença: é vício.

A doença geralmente surge dentro de você e se apossa do seu organismo de forma involuntária. Já o vício, eu diria que é o seu desejo totalmente voluntário de apossar-se daquilo que, relativamente, você não pode (ou não deveria querer) ter.

Quando se está doente, ingere-se remédios, tem-se controle, pode-se chegar à cura. Quando se é viciado, sobra aquele papo de ‘força interior’, ‘só depende de você’, ‘te vira negão’. Doente quer quarto arejado. Viciado se tranca em quarto escuro.

Doente recebe visitas, recebe carinho e tem toda a atenção do mundo! Já o viciado, coitado, haja paciência para continuar ouvindo à sua mesma ladainha...

Uma vez curado, você não deseja ter a doença de volta. Mas uma vez abstinente, você não consegue pensar em outra coisa senão em seu vício.

E daí que eu nunca estive doente. Mas em compensação, me descobri viciada: em inteligência, companhia agradável e risada gostosa. Viciada em ‘brainstorms emeésseênicos’ e pedidos de ajuda fora de hora. Viciada em críticas construtivas e em conversa fiada. Em idas à Fnac para passar o tempo. E em dicas. E em bandas novas. E em insights. Viciada no ombro pra chorar pitangas e despejar crises existenciais. E no resto do corpo pra sair dançando junto onde quer que a música começasse a tocar.

Reconhecer o ‘vício’ talvez seja um passo importante. E vale considerar também que já há algum tempo eu venho me forçando à abstinência. Mas o mais difícil para um viciado é conseguir se livrar dos seus ‘fornecedores’, que no meu caso atendem pelos codinomes Memória, Lembrança e Saudade.

Nos últimos dias, fazendo a habitual faxina de fim de ano em gavetas, armários e arquivos no computador, me deparei com um verdadeiro arsenal oferecido por esses aliciadores: de textos a ilustrações, de fotografias a ingressos de cinema, de emails a CDs. “Artigos de primeira”, dizia o Lembrança. “Nem precisa puxar muito”, ouvi do Memória. “Doses pequenas são o suficiente para causar”, completou o Saudade.

E foi chegando nesse quase ponto de ‘overdose’ que eu decidi: não vou mais desejar ser a
Clementine do Kaufman! Não quero me esquecer da existência da pessoa, uma vez que é o sentimento que me entorpece. Tudo bem que acabamos por nos excluir, gradativamente, da vida um do outro. Mas no fundo, nos sabemos ‘indeletáveis’: a gente sempre é o que é por conta de quem cruzou a nossa trajetória.

Sendo assim, por mais que eu tente me manter ‘limpa’, haverá sempre um encontro onde vão me perguntar dele, haverá sempre a necessidade de citá-lo ao contar uma história ocorrida nos últimos 5 ou 6 anos e haverá sempre a vontade de ligar pra contar sobre algo bacana que me aconteceu. Aliás, haverá sempre uma música pra me fazer lembrar do que quer que seja.

E haverá sempre os aniversários, os natais e as viradas de ano. E com estas, a lembrança de uma conversa sincera, sentados numa escada, finalizada com um abraço apertado e selado pela promessa de uma amizade eterna. Ok. Hora de parar com as drogas. Hora de parar com esse assunto. Hora de fechar o ciclo.

Um FELIZ ANO NOVO pra ele, um FELIZ ANO NOVO pra você. E um 2009 inteirinho pra eu cuidar bem de mim! :-)

2 comentários:

Ariadne Manfredine disse...

Lu...

O que eu posso falar?
Pois é, tb devo estar viciada e tb preciso me manter limpa, mas é difícil, né?!

Se cuida!

Beijos,

Lina Ardila disse...

aaa Lu quase chorei...somos todos viciados...adorei passar de novo por aqui :)