10.11.08

30ANOS-EM-30DIAS [2]: Perdi meu reinado!

Minha primeira festa de aniversário aconteceu para comemorar meus dois anos de idade porque, segundo minha mãe, eu 'já entendia'.

As fotos daquele dia exibem uma Lucieide de cabelos 'quase loiros' e encaracolados, dançando animadamente o
hit do momento: dá-lhe Gretchen nas paradas de sucesso!

Diz minha mãe que nessa época eu passava as tardes cantarolando (ou ao menos tentando cantar) uma música da Nikka Costa, '
On my Own'. Só não entendo como, fazendo isso aos dois anos, meu inglês de hoje ainda não é fluente. Anyway...

E eu não só 'falava' outra língua, como também era muito linguaruda: cheguei a difamar uma vizinha que se esqueceu de trancar a porta enquanto curtia um love com o namorado, na ausência da mãe dela. Corri com olhos arregalados para onde estavam minha mãe e outras mulheres: "Ô mããããe, eu vi o fulano pegando na bunda da ciclana!". E, como todos sabem, pro azar da 'ciclana', criança não mente...rs.

Eu era a única criança da vila onde morávamos e, portanto, não me faltavam paparicos e mimos. Mas isso até a Dona Cegonha resolver dar o ar da graça bem no meu pedaço, engravidando praticamente todas as mulheres daquela vizinhança, incluindo minha mãe.

Quando a primeira das vizinhas deu à luz, fiquei doente. Eu não tinha mais o livre acesso à sua casa, nem ao seu colo e, principalmente, à sua atenção. E o mesmo ocorrera com as outras vizinhas, deixando-me cada vez mais próxima da minha mãe e do novo ser que se aproximava - e que, não sei se por convicção ou por desejo de ambos, meus pais passaram a chamar de 'Juninho', levando-me a crer que eu teria um irmão.

Minhas primeiras memórias começam daí. Lembro um pouco do barrigão da minha mãe e também do dia em que tiramos uma foto (que postarei quando digitalizá-la), onde ela está usando um chapéu que era do meu tio e meu pai tá com muita cara de sono porque, de fato, acabara de acordar. Era domingo (sei disso porque depois a gente foi pra casa da minha avó e a gente só ia almoçar lá aos domingos, rs). Deviam ser umas 10hs ou 11hs da manhã quando minha mãe acordou a gente "O fotógrafo chegou!".

Disso eu não me lembro, mas minha mãe diz que no sábado, 05 de dezembro, havia limpado a casa inteira porque no domingo teria um 'bolinho' em comemoração aos meus três anos, só para os íntimos. Mas no domingo, durante o almoço, ela começou a sentir as contrações...

Das lembranças tulmultuadas desse dia, sei que alguém me disse que eu ficaria uns dois dias sem ver minha mãe - não tínhamos plano de saúde e, portanto, nada de quarto particular para receber quantas visitas desejasse, e muito menos menores de idade. Meu pai, então, me levou pra passear
pelo centro da cidade, me comprou uma boneca cabeluda (cabelos na cintura!) e fomos pra casa. Se não me engano, minha avó ficou lá com a gente.

Eu não conseguia dormir e nem comer. Muito mal acostumada, eu só comia o tal mingau feito pela minha mãe e que ninguém sabia fazer igual. Mesmo quando ela voltou pra casa e quiseram me enganar "Foi sua mãe quem fez!", eu sabia reconhecer, pelo cheiro, que ela sequer tinha chegado perto daquela goroba que me ofereciam. Panelas e panelas jogadas fora, até que a coitada se levantou, temendo que eu ficasse doente e, numa espécie de tira-teima, fez o tal mingau às escondidas. E eu soube, na hora, que havia sido feito por ela!

O pior de tudo foi a decepção: me prometeram um Juninho e me trouxeram uma... Luciana! Lembro (sim, eu me lembro!) de ir até o berço e ver aquele bebê cor-de-rosa: uma menina, argh! Minha mãe diz que eu não queria dar o braço a torcer, e que às vezes me via sozinha, no quarto, brincando com a Lu, mexendo em suas mãozinhas pelas grades do berço. Mas que, ao perceber-me sendo observada, soltava-a rapidinho e voltava a fazer minha cara de má, às vezes seguida da frase "Mãe, eu não gosto dessa menina!".

Ela conta também que certo dia, após mais um daqueles longos dias de visitas ao bebê, que não parava de ganhar presentes e 'guti-gutis', eu a chamei de canto e perguntei, com cara de choro: "Mãe, ninguém mais vai gostar de mim, só dessa menina?".

Queria poder ter imagens em vídeo dessa 'Lucieidinha' que começava a contestar as 'injustiças' do mundo...rs.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo!
É muito legal ler esses seus posts!
Vc escreve muito bem, to adorando!
*indo pro próximo*